14.1.09

No estendal


O frio é tanto que torna necessária a procura de sol e de luz... as meias de lã, no estendal, contra um céu azul, quentes, coloridas e luminosas propiciam a improvável ilusão... há que contrariar a ideia de frio, com todas as armas!!!!

A luz que vem das pedras, do íntimo da pedra,
tu a colhes, mulher, a distribuis
tão generosa e à janela do mundo.
O sal do mar percorre a tua língua;
não são de mais em ti as coisas mais.
Melhor que tudo, o vôo dos insectos,
o ritmo nocturno do girar dos bichos,
a chave do momento em que começa o canto
da ave ou da cigarra
-a mão que tal comanda no mesmo gesto fere
a corda do que em ti faz acordar
os olhos densos de cada dia um só.
Quem está salvando nesta respiração
boca a boca real com o o universo?

Pedro Tamen, 9, Agora Estar, 1975, Poesia 1956-1978

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